"A Casa dos Galos: A História de uma Família Ucraniana" de Victoria Belim

A Casa dos Galos, de Victoria Belim, é uma obra entre o memorial familiar e o retrato histórico, que nos conduz pelo passado conturbado da Ucrânia, atravessando décadas de sofrimento, resistência e identidade.
Belim, nascida na Ucrânia, viveu os seus primeiros 15 anos no país antes de emigrar para os Estados Unidos e, mais tarde, para a Bélgica.
Em 2014, regressa ao seu país natal, num momento em que a Ucrânia volta a ser abalada pela invasão russa da Crimeia.
O que começa como uma viagem à terra da sua infância transforma-se numa busca pela verdade e pela memória — tanto da sua família como da própria nação ucraniana.
Memória, silêncio e herança
No centro do livro está o mistério do desaparecimento do tio-avô de Victoria, durante o regime de Stalin, nos anos 1930 — um entre centenas de milhares de vidas apagadas pelas purgas soviéticas.
A autora parte desse silêncio familiar para reconstruir a história, intercalando a investigação com a sua convivência com a avó, guardiã das memórias e feridas de gerações passadas.
Belim escreve com emoção e honestidade, revelando as marcas deixadas pela fome, pela repressão e pelas sucessivas dominações políticas.
Mas há também espaço para ternura, amor e esperança — especialmente nas pequenas rotinas da vida quotidiana ucraniana, que resistem, mesmo nas horas mais sombrias.
O livro é um mosaico de vozes, de lembranças e de lugares.
E se, por vezes, a narrativa parece lenta e fragmentada, é precisamente porque reflete o próprio ato de recordar — a memória nunca é linear, é feita de ecos e pausas, de segredos e redescobertas.
Um retrato da Ucrânia — ontem e hoje
Mais do que um relato pessoal, A Casa dos Galos é um retrato da alma ucraniana.
Belim mostra a força e a resiliência de um povo que sobreviveu a ditaduras, invasões e silêncios impostos.
Ao ler, é impossível não pensar na Ucrânia de hoje, ainda em luta pela sua liberdade — e perceber que as raízes dessa resistência vêm de muito longe.
O contraste entre a dureza da história e a sensibilidade da escrita torna o livro ainda mais impactante.
A autora equilibra o peso do passado com uma voz calma, quase poética, que ilumina o sofrimento sem o romantizar.
Conclusão
A Casa dos Galos é uma leitura intensa e necessária — uma ponte entre a memória individual e a memória coletiva.
É um livro sobre família, perda e reconciliação, mas também sobre o poder das histórias para curar feridas antigas.
Uma leitura que exige atenção e paciência, mas que recompensa com emoção e sabedoria.
⭐ Classificação: 4 / 5
Um testemunho poderoso sobre a Ucrânia, sobre o peso do passado e sobre a coragem de quem continua a lutar por um futuro livre.











