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Onde o Mar Encontra as Palavras

Entre silêncios, memórias e aquilo que ainda quero dizer

Onde o Mar Encontra as Palavras

Entre silêncios, memórias e aquilo que ainda quero dizer

Qui | 30.10.25

"A Casa dos Galos: A História de uma Família Ucraniana" de Victoria Belim

Nelson Pradinhos

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A Casa dos Galos, de Victoria Belim, é uma obra entre o memorial familiar e o retrato histórico, que nos conduz pelo passado conturbado da Ucrânia, atravessando décadas de sofrimento, resistência e identidade.

Belim, nascida na Ucrânia, viveu os seus primeiros 15 anos no país antes de emigrar para os Estados Unidos e, mais tarde, para a Bélgica.
Em 2014, regressa ao seu país natal, num momento em que a Ucrânia volta a ser abalada pela invasão russa da Crimeia.
O que começa como uma viagem à terra da sua infância transforma-se numa busca pela verdade e pela memória — tanto da sua família como da própria nação ucraniana.

 

Memória, silêncio e herança

No centro do livro está o mistério do desaparecimento do tio-avô de Victoria, durante o regime de Stalin, nos anos 1930 — um entre centenas de milhares de vidas apagadas pelas purgas soviéticas.
A autora parte desse silêncio familiar para reconstruir a história, intercalando a investigação com a sua convivência com a avó, guardiã das memórias e feridas de gerações passadas.

Belim escreve com emoção e honestidade, revelando as marcas deixadas pela fome, pela repressão e pelas sucessivas dominações políticas.
Mas há também espaço para ternura, amor e esperança — especialmente nas pequenas rotinas da vida quotidiana ucraniana, que resistem, mesmo nas horas mais sombrias.

O livro é um mosaico de vozes, de lembranças e de lugares.
E se, por vezes, a narrativa parece lenta e fragmentada, é precisamente porque reflete o próprio ato de recordar — a memória nunca é linear, é feita de ecos e pausas, de segredos e redescobertas.

 

Um retrato da Ucrânia — ontem e hoje

Mais do que um relato pessoal, A Casa dos Galos é um retrato da alma ucraniana.
Belim mostra a força e a resiliência de um povo que sobreviveu a ditaduras, invasões e silêncios impostos.
Ao ler, é impossível não pensar na Ucrânia de hoje, ainda em luta pela sua liberdade — e perceber que as raízes dessa resistência vêm de muito longe.

O contraste entre a dureza da história e a sensibilidade da escrita torna o livro ainda mais impactante.
A autora equilibra o peso do passado com uma voz calma, quase poética, que ilumina o sofrimento sem o romantizar.

 

Conclusão

A Casa dos Galos é uma leitura intensa e necessária — uma ponte entre a memória individual e a memória coletiva.
É um livro sobre família, perda e reconciliação, mas também sobre o poder das histórias para curar feridas antigas.
Uma leitura que exige atenção e paciência, mas que recompensa com emoção e sabedoria.

 

⭐ Classificação: 4 / 5


Um testemunho poderoso sobre a Ucrânia, sobre o peso do passado e sobre a coragem de quem continua a lutar por um futuro livre.

 

Qua | 29.10.25

"Nunca Te Esqueças das Flores" de Genki Kawamura

Nelson Pradinhos

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Nunca Te Esqueças das Flores, de Genki Kawamura, é uma história sobre o amor entre mãe e filho, sobre a fragilidade da memória e sobre a inevitável passagem do tempo.

O romance acompanha Yuriko e Izumi, mãe e filho, num período de mudança e vulnerabilidade.
Enquanto Izumi começa a perder-se nas névoas do Alzheimer, Yuriko descobre que está prestes a tornar-se pai.
É um momento de cruzamento entre o início e o fim, entre o nascimento e o esquecimento — e Kawamura conduz esta narrativa com a mesma delicadeza e sensibilidade que já conhecemos de Se os Gatos Desaparecessem do Mundo.

 

Entre o adeus e o recomeço

O que mais me tocou foi a forma como o autor transforma a dor em poesia.
A relação entre mãe e filho é retratada com realismo, ternura e uma melancolia subtil.
Enquanto Izumi perde lentamente o seu mundo interior, Yuriko tenta reconstruir o seu, num processo de reaprendizagem mútua.
Ele torna-se, aos poucos, o cuidador, o “pai” da sua mãe — e é nesse gesto silencioso que o amor se revela em toda a sua profundidade.

A narrativa é feita de memórias, intercaladas entre o presente e o passado, exigindo do leitor atenção e entrega.
Mas é precisamente nessa teia de lembranças que encontramos a beleza do livro:
as pequenas cenas, os gestos esquecidos, as palavras que permanecem mesmo quando tudo o resto se apaga.

 

🌸 Memória, amor e flores

Kawamura escreve com uma delicadeza quase cinematográfica.
Cada frase parece um pétala — simples, mas carregada de significado.
As flores, que dão título ao livro, funcionam como metáfora da própria vida: frágeis, passageiras, mas eternamente belas.

Entre temas como o abandono, a solidão, a doença e o amor, o autor fala-nos da importância das memórias — essas raízes invisíveis que nos ligam uns aos outros e que definem quem somos.
Mesmo quando a memória se desfolha, o amor permanece — e é isso que o livro nos ensina com uma doçura profunda.

 

Conclusão

Nunca Te Esqueças das Flores é um romance introspectivo e comovente, que nos lembra que o tempo leva muitas coisas, mas nunca o afeto verdadeiro.
Não é um livro para devorar — é um livro para sentir.

 

⭐ Classificação: 4 / 5

 

Uma história sobre lembrar, esquecer e, sobretudo, continuar a amar.

 

Qua | 29.10.25

“O Outono que Espirrava Folhas: O Segredo das Bolachas Mágicas”

Capítulo 5 – "O Forno da Meia-Lua"

Nelson Pradinhos

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O caminho tornava-se cada vez mais estreito e sinuoso.

            As árvores do Bosque Douramel inclinavam-se suavemente, como se quisessem espreitar os viajantes curiosos.

            O luar escorria pelos galhos e transformava o chão num tapete prateado.

            O ar cheirava a canela, mel e a um segredo antigo.

            — Esta parte do bosque está diferente, — murmurou o Outono.

            — É o luar, — explicou Falco. — Ele desperta as memórias que dormem nas raízes.

            Samuel, porém, só pensava numa coisa.

            — Espero que as memórias saibam a bolacha… ou pelo menos a açúcar em pó.

            Falco riu-se com o seu ronronar grave.

            — A tua barriga tem mais opiniões do que um feiticeiro em assembleia.

            Seguiram por um trilho quase escondido, ladeado por flores que só abriam à noite.

            As pétalas brilhavam como pequenas lanternas, e o som do vento parecia transformado em música.

            De repente, as árvores abriram-se para revelar uma clareira iluminada pela lua.

            No centro, havia uma construção antiga — meio forno, meio casinha — feita de pedra clara e tijolos cor de abóbora.

            O Forno da Meia-Lua estava coberto de hera prateada, e a sua chaminé tinha a forma de um crescente.

            Em volta, o chão era coberto por folhas douradas e pedrinhas que brilhavam.

            O ar ali era diferente: quente, acolhedor, cheio de um cheiro doce que fazia cócegas no nariz.

            — Uau… — murmurou o Outono. — É mesmo um forno!

            — E ainda funciona, — disse Falco, orgulhoso. — Mesmo sem fogo, ele lembra o calor das gargalhadas que o acenderam pela primeira vez.

            Samuel olhou em volta, espantado.

            — E onde estão as bruxas?

            — Foram embora há muito tempo, — respondeu Falco. — Mas deixaram para trás algo mais forte do que feitiços — a alegria de partilhar.

            O gato aproximou-se do forno e pousou a pata sobre uma das pedras, onde estava gravado um símbolo em forma de espiral.

            Assim que Falco tocou no símbolo, este começou a brilhar sob a pata do gato, espalhando linhas de luz pelo chão, como raízes de fogo suave.

            As faíscas dançavam à volta deles, desenhando no ar pequenas formas — estrelas, luas, abóboras.

            Soltou um “plim!” tão sonoro que Samuel deu um salto.

            — Ai! — gritou o zombie. — Isso vai explodir?

            Falco revirou os olhos, divertido.

            — Calma, destemido herói das bolachas. O forno só está a espreguiçar-se.

            O símbolo começou a girar lentamente, e o chão tremeu de leve.

            — Este é o coração do Forno da Meia-Lua, — explicou Falco. — Cada volta da espiral é uma lembrança doce à espera de ser desperta.

            De repente, o ar ficou mais quente.

            As pedras do forno começaram a brilhar em tons de cobre e dourado, e o luar refletiu-se nelas como um espelho líquido.

            Um som suave ecoou — como risadas ao longe — e pequenas faíscas subiram pela chaminé em forma de crescente, desaparecendo no céu.

            Samuel olhou à volta, nervoso.

            — Estão a ouvir isso? Parece que alguém está a rir-se dentro do forno!

            Falco sorriu, sereno.

            — São as bruxas. Elas deixaram o riso preso no fogo, para o caso de alguém precisar de o reacender.

            O Outono observava, maravilhado, o brilho que crescia dentro do forno.

            O calor parecia dançar-lhe à volta, acariciando-lhe o rosto e o nariz.

            E então, inevitavelmente…

            — Atchimm! — espirrou.   

            Mas desta vez, o espirro não trouxe confusão nem vergonha.

            O vento que saiu do seu peito misturou-se com o luar, entrando no forno e fazendo as chamas dançar em espirais douradas.

            O bosque inteiro brilhou.

            Falco piscou o olho.

            — Vês, rapaz? Até as tuas alergias sabem quando o mundo precisa de um empurrão.

            O Outono sorriu. Pela primeira vez, espirrar soube-lhe bem.

            Lá dentro, algo começou a ganhar forma.

            Uma fornada de bolachas de abóbora apareceu, fumegante e dourada, com cheirinho de canela e luar.

            Samuel arregalou os olhos.

            — Conseguimos! — gritou ele. — As bolachas mágicas estão de volta!

            Falco abanou a cauda, satisfeito.

            — Sim…, mas lembra-te, rapaz: a verdadeira magia nunca está no forno — está em quem partilha o primeiro pedaço.

            O zombie olhou para as bolachas e depois para o Outono.

            — Então… metade para cada um?

            — Metade — concordou o Outono, sorrindo. — E o resto, para quem aparecer com fome.

 

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Convido-te a ler, sentir e partilhar a tua opinião nos comentários:
✨ O que mais te encantou?
🍪 Qual foi a tua parte favorita?
💭 E o que mudarias, se fosses tu a soprar o vento desta história?

As tuas palavras ajudam esta aventura a crescer — como folhas novas a nascer no coração do bosque.
Obrigada por caminhares comigo nesta estação de magia e imaginação.

Com carinho,
Nelson Pradinhos

 

Qua | 29.10.25

"O Monge que Amava Gatos" de Corrado Debiasi

Nelson Pradinhos

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O Monge que Amava Gatos, de Corrado Debiasi, é uma história simples, mas profundamente espiritual, que combina sabedoria oriental, ternura e reflexão.

Trata-se de um livro suave e envolvente, que transmite sete ensinamentos essenciais para a vida, mas de uma forma muito especial: através de uma narrativa.
Em vez de apresentar uma lista de lições, Debiasi conduz-nos por uma verdadeira história — entre encontros, silêncios, meditação e amor. É nesse caminho que o leitor descobre os segredos de uma vida mais plena e serena.

 

Entre paz, gatos e sabedoria

O autor escreve com uma leveza quase poética.
Cada página é uma pausa no caos, um convite à contemplação.
O monge, figura central da história, não ensina através de discursos ou regras — mas com gestos, exemplos e silêncios. E claro, através dos gatos, criaturas livres e misteriosas que simbolizam a serenidade e a presença no momento.

Li-o com tranquilidade, saboreando cada capítulo. Há algo de mágico na forma como Corrado Debiasi transforma ensinamentos filosóficos em pequenas histórias que tocam o coração.
É um livro sobre paz interior, meditação e amor, mas também sobre aceitar as imperfeições e compreender que a felicidade não está fora de nós, mas no modo como olhamos para o mundo.

 

Um livro que acalma

O que mais gostei neste livro foi precisamente isso:
os ensinamentos são apresentados com doçura e humanidade, sem pretensões, através de uma história que cativa e inspira.
Não é um manual espiritual pesado, mas sim uma viagem de autoconhecimento, contada com leveza e emoção.

Senti-me em paz enquanto lia.
E quando o terminei, percebi que, de certa forma, aquele monge e os seus gatos tinham deixado uma marca silenciosa no meu coração.

 

Conclusão

O Monge que Amava Gatos é um daqueles livros que se lêem devagar, com uma chávena de chá ao lado e o coração aberto.
Ideal para quem procura um momento de calma, inspiração e reflexão.
Uma leitura que ensina sem impor, que emociona sem dramatizar — e que, acima de tudo, nos lembra da beleza das coisas simples.

 

⭐ Classificação: 4 / 5


Um livro sereno, tocante e cheio de lições para quem quer aprender a viver com mais leveza e amor.

 

Ter | 28.10.25

"Onde as Peras Caem" de Nana Ekvtimishvili

Nelson Pradinhos
Ter | 28.10.25

Festival de Filosofia de Abrantes 2025 — O poder da palavra para pensar, agir e transformar

Nelson Pradinhos

Festival de Filosofia de Abrantes regressa com reflexão sobre “O poder da palavra: pensar, agir, transformar”

De 20 a 22 de novembro, Abrantes volta a ser o ponto de encontro para quem acredita que a palavra ainda tem poder — poder para inspirar, questionar e transformar.
A 8.ª edição do Festival de Filosofia de Abrantes traz como tema central “O poder da palavra: pensar, agir, transformar”, propondo uma reflexão profunda sobre a forma como as palavras moldam o nosso pensamento, emoções e a própria realidade.

Organizado pela Câmara Municipal de Abrantes, este festival celebra o Dia Mundial da Filosofia (20 de novembro) com um programa diversificado que junta escritores, académicos, sociólogos, jornalistas e investigadores, num diálogo entre saberes, ideias e emoções.

 

Quando a palavra ganha corpo e sentido

Durante três dias, a Biblioteca Municipal António Botto será o palco de painéis, debates e residências filosóficas dedicadas ao poder da linguagem — o seu papel na transformação social, a sua dimensão ética e política, e os desafios da comunicação na era digital.

O evento será inaugurado pelo presidente da autarquia, Manuel Jorge Valamatos, com uma conferência inaugural do filósofo e ensaísta José Gil, homenageado desta edição e reconhecido pelo seu contributo à filosofia portuguesa contemporânea.

A programação inclui também momentos de participação ativa do público e das escolas, através de atividades como a Assembleia da Palavra e as Residências de Perguntas e Respostas, dinamizadas por Joana Rita Sousa.
Estas iniciativas envolvem alunos do 1.º ciclo ao ensino profissional, promovendo o pensamento crítico nas novas gerações, e mostrando que filosofar é, acima de tudo, aprender a perguntar.

 

Entre livros, arte e pensamento

O festival não se limita às palavras faladas.
Paralelamente, haverá uma feira do livro e duas exposições artísticas — “Traços impercetíveis de resistência”, de Susana Rosa, e uma mostra dos trabalhos resultantes da residência filosófica.

Durante os três dias, o público poderá ainda visitar gratuitamente o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes (MIAA), distinguido como Museu do Ano 2023.

O encerramento, a 22 de novembro, será marcado por um momento de arte e emoção: o espetáculo “Mulheres Poema”, interpretado por Maria Caetano Villalobos, acompanhada por Rute Rocha Ferreira na guitarra e teclado — uma homenagem à poesia e à voz feminina na filosofia da vida.

 

Pensar é resistir

Mais do que um evento cultural, o Festival de Filosofia de Abrantes é um convite à pausa — a parar, ouvir, e refletir sobre a força e a responsabilidade das palavras.
Num tempo dominado pela velocidade e pela desinformação, pensar torna-se um ato de resistência, e a palavra, uma ferramenta essencial para agir e transformar o mundo.

Com entrada livre e um programa que une filosofia, literatura, arte e comunidade, este festival reafirma o compromisso de Abrantes com o pensamento livre e a partilha de ideias — lembrando-nos que a filosofia vive em cada conversa, em cada livro e em cada gesto de escuta.

 

Ter | 28.10.25

LeYa leva bibliotecas a hospitais de Lisboa: quando os livros também curam

Nelson Pradinhos

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Ler é, muitas vezes, uma forma de respirar.
Num hospital — espaço onde a dor, a ansiedade e a esperança convivem — os livros podem ser mais do que passatempo: podem ser companheiros silenciosos, capazes de aliviar o peso dos dias e despertar emoções que ajudam a curar por dentro.

É com esse propósito que o Grupo LeYa, em parceria com a Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental (ULSLO), lançou o projeto “LeYa para Cuidar”, criando bibliotecas hospitalares abertas a pacientes, visitantes e profissionais de saúde.
Atualmente, o projeto já está presente nos hospitais Egas Moniz, São Francisco Xavier e Santa Cruz, com planos de expansão para o Hospital de Santa Maria até meados de novembro.

 

Ler para cuidar

Cada biblioteca conta com cerca de 500 livros, cuidadosamente escolhidos de acordo com o perfil e as necessidades de cada hospital.
Nos espaços destinados aos adultos, predominam títulos de romance, desenvolvimento pessoal e literatura contemporânea; já no Hospital São Francisco Xavier, a coleção tem uma forte componente infantojuvenil, pensada para as crianças internadas e para os pais que as acompanham.

Como explica Marta Branquinho, diretora de Recursos Humanos da LeYa, o objetivo é claro:

“Promover a leitura como motor de transformação social e humanizar o ambiente hospitalar.”

A iniciativa começou com um convite do Hospital de Santa Cruz e cresceu rapidamente, mobilizando voluntários, leitores e profissionais da editora.
E, de forma simbólica e poderosa, a LeYa reforça a ideia de que a leitura também é um ato de cuidado — um gesto que acalma, inspira e aproxima.

 

Contar histórias que fazem bem

Paralelamente às bibliotecas, a editora mantém o projeto “Os Contadores de Histórias LeYa”, no qual colaboradores voluntários visitam o Hospital de Santa Maria todas as sextas-feiras para ler histórias a crianças internadas.

Marta Branquinho descreve essas visitas como momentos transformadores:

“Estamos a modificar pelo menos uma parte do dia daquele miúdo, daquela miúda, mas também daquela mãe ou daquele pai.”

São ações simples, mas com impacto profundo.
Um conto pode ser uma pausa na dor, uma história pode ser um refúgio, e um livro pode tornar-se uma janela aberta para o mundo — mesmo entre as paredes de um hospital.

 

Mais do que um projeto — um compromisso

A iniciativa integra um movimento mais amplo da LeYa em torno da responsabilidade social e cultural.
No primeiro semestre de 2025, o grupo doou mais de 11 mil livros, muitos deles destinados a prisões e escolas africanas em países como Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Angola.

O objetivo é o mesmo em todos os contextos: levar a leitura a quem mais precisa dela, transformando o livro num instrumento de liberdade, dignidade e esperança.

 

LeYa para Cuidar — porque ler também é curar

A LeYa promete continuar a expandir o projeto, reforçando a parceria com os hospitais já envolvidos e criando novas ações, como sessões de leitura ao vivo e atividades literárias.
O sonho? Que esta rede de bibliotecas hospitalares cresça para todo o país, tornando os hospitais lugares mais humanos — onde a medicina cuida do corpo e a literatura cuida da alma.

 

Ter | 28.10.25

🍒 "Cherry Magic! THE MOVIE"

Nelson Pradinhos

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Há histórias que são tão genuínas que parecem um abraço — e Cherry Magic! é uma delas.
Depois da série que conquistou corações pelo mundo, Cherry Magic! THE MOVIE veio como uma continuação natural e necessária, mostrando que o amor, mesmo quando parece simples, é sempre um ato de coragem e crescimento.

No filme, reencontramos Adachi e Kurosawa, agora a viver uma fase mais madura da relação.
O dom mágico de Adachi — conseguir ler os pensamentos das pessoas — continua a ser o fio condutor da narrativa, mas aqui ganha uma nova dimensão: a de aprender a confiar, não apenas nos outros, mas em si próprio.

 

Doce, sincero e profundamente humano

O que mais encanta neste filme é o equilíbrio perfeito entre romance, humor e emoção.
A relação entre Adachi e Kurosawa continua terna e cheia de respeito, mostrando um amor feito de gestos pequenos, olhares e silêncios cheios de significado.
É uma história sobre crescimento emocional, sobre aprender a comunicar, a partilhar medos e a aceitar que amar alguém também é permitir-se ser vulnerável.

O filme expande o universo da série sem o perder — continua a mesma delicadeza, o mesmo ritmo tranquilo, e aquela luz suave que transforma cada cena numa pintura de emoções simples e verdadeiras.

 

Uma mensagem sobre amor e aceitação

Mais do que uma história de amor, Cherry Magic! fala sobre autoaceitação.
Sobre a descoberta de que o amor mais importante é o que temos por nós próprios.
E, talvez por isso, o filme emocione tanto — porque reflete o medo que todos temos de não sermos “suficientes” e a alegria de perceber que, afinal, alguém nos vê exatamente como somos e, ainda assim, escolhe ficar.

Adachi e Kurosawa representam essa delicadeza rara: dois corações que se encontram, tropeçam, crescem e continuam a caminhar juntos — de mãos dadas, mesmo que o mundo lá fora seja barulhento.

 

Conclusão

Cherry Magic! THE MOVIE é um fecho perfeito para uma história que nos ensinou que o amor não precisa ser grandioso para ser verdadeiro.
É um filme sobre empatia, carinho e autenticidade, com personagens que continuam a cativar pela simplicidade e pela verdade dos seus sentimentos.

Se a série já era um bálsamo para o coração, o filme é um abraço final cheio de ternura — e uma lembrança de que a magia do amor está, afinal, nas coisas mais simples.

 

⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)

 

Um filme que é puro encanto, para ver com o coração aberto.

 

Ter | 28.10.25

Séries que me encantaram este mês

Nelson Pradinhos

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🌸 Blueming — ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)

Delicada, introspectiva e lindamente filmada, Blueming é uma daquelas séries que nos conquista aos poucos.
Acompanha dois jovens universitários que, entre inseguranças e expectativas, aprendem o verdadeiro significado de se aceitarem e permitirem ser amados.
A cinematografia é suave, a narrativa é sincera — e o romance floresce de forma natural, sem pressas.
É uma história sobre o crescimento pessoal, a empatia e a beleza de nos mostrarmos como somos.
Simplesmente linda. 💙

 

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🎶 Happy Merry Ending — ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)

Uma série curta, mas que toca fundo.
Happy Merry Ending fala de dor, de recomeços e de encontrar amor quando menos esperamos.
Entre notas de piano e silêncios cheios de significado, acompanhamos dois homens marcados pelo passado que aprendem a acreditar novamente na felicidade.
É sensível, honesta e transmite uma mensagem poderosa: o amor pode mesmo curar.

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🦇 My Secret Vampire — ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)

Esta foi uma surpresa deliciosa!
Com humor, fantasia e um toque de mistério, My Secret Vampire combina o sobrenatural com o quotidiano de forma leve e envolvente.
É divertida, romântica e cheia de momentos inesperados — uma mistura perfeita entre o absurdo e o adorável.
Para quem gosta de histórias que fogem ao cliché e trazem algo novo, esta série é um verdadeiro guilty pleasure. 🩸💋

 

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Cherry Magic! Thirty Years of Virginity Can Make You a Wizard?! — ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)

Um clássico moderno do romance asiático, Cherry Magic! é ternura em estado puro.
A ideia é simples e mágica: um homem descobre que pode ler os pensamentos das pessoas depois de completar 30 anos… virgem.
Mas o que começa como uma comédia encantadora torna-se uma das histórias mais bonitas sobre vulnerabilidade, amor e confiança.
Cada episódio é um abraço no coração — com personagens carismáticos, um humor doce e uma mensagem sobre sermos amados exatamente como somos. 

 

Conclusão

Cada uma destas séries me deixou algo — um sorriso, uma lágrima ou uma reflexão.
São histórias sobre aceitação, amor, recomeço e coragem.
Provas de que o romance pode ser leve sem deixar de ser profundo, e que mesmo nas narrativas mais simples encontramos humanidade.

Para quem procura algo que aqueça o coração — recomendo todas. 🌈

 

Ter | 28.10.25

"Um Gato em Tóquio" de Nick Bradley

Nelson Pradinhos

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Há livros que nos transportam. Que nos fazem viajar sem sair do lugar, sentir o pulsar de cidades distantes e perder-nos nas suas ruas, sons e cheiros.
Um Gato em Tóquio, de Nick Bradley, é exatamente isso — uma carta de amor a Tóquio, aos seus habitantes e à magia silenciosa que existe nas pequenas histórias que se cruzam no meio do caos urbano.

Tudo começa com um tatuador que recebe um pedido invulgar de Naomi, uma rapariga de olhos verdes e enigmáticos. Ela quer tatuar nas costas uma recriação minuciosa da cidade de Tóquio — mas vazia, sem ninguém. O artista, intrigado, decide incluir um pequeno gato junto à estação de Shibuya.
E é então que o improvável acontece: o gato começa a mover-se.

A partir desse momento, o leitor é levado por uma teia de histórias interligadas — pessoas que se cruzam, que se tocam brevemente e seguem as suas vidas.
Há solidão e calor humano, rotina e sonho, tecnologia e tradição. É uma narrativa fragmentada, mas bela, que espelha a própria cidade: imensa, contraditória e viva.

 

Uma viagem literária a Tóquio

Bradley utiliza o gato — uma figura recorrente e quase mística — como fio condutor de todas as histórias, unindo personagens e lugares de forma subtil.
O que mais me encantou foi precisamente essa teia de ligações invisíveis: um olhar partilhado no metro, uma conversa ouvida ao acaso, um gesto esquecido que acaba por mudar o rumo de outra vida.

O autor faz um retrato sensível da Tóquio contemporânea — dos hotéis cápsula às ruas apinhadas de Shinjuku, das cerejeiras em flor aos videojogos, dos templos silenciosos ao brilho das luzes de néon.
Como alguém que sonha visitar o Japão, senti-me completamente imerso na cultura, como se cada página me deixasse ouvir o som distante de um comboio a passar ou o miar suave de um gato perdido na cidade.

 

Um livro sobre solidão, conexão e humanidade

Mais do que um retrato urbano, Um Gato em Tóquio é uma reflexão sobre o que nos une — mesmo quando acreditamos estar sozinhos.
Cada personagem traz uma faísca de humanidade, e Bradley revela com ternura as fragilidades e esperanças escondidas no meio do ritmo frenético da cidade.

É um livro que combina a estética japonesa com uma escrita poética e cinematográfica.
Há nele um toque de Murakami, um sopro de magia e uma melancolia bonita — aquela que só os bons livros deixam.

 

 Conclusão

Um Gato em Tóquio é um livro cativante e diferente, que mistura realismo, fantasia e humanidade. Uma leitura que nos lembra que, mesmo na maior das metrópoles, há sempre histórias a acontecer em paralelo — e que talvez, sem sabermos, também sejamos parte delas.

Uma obra que recomendo especialmente a quem ama o Japão, os gatos e as narrativas que se cruzam como fios de seda no coração de uma cidade viva.

 

⭐ Classificação: 4 / 5

 

Porque, tal como o pequeno gato de Shibuya, este livro passeia-se entre a fantasia e a realidade com uma graciosidade impossível de não admirar.

 

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