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Onde o Mar Encontra as Palavras

Entre silêncios, memórias e aquilo que ainda quero dizer

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Sex | 17.10.25

"Griffin in Summer"

Nelson Pradinhos

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Griffin in Summer é um filme indie de “coming-of-age”, escrito e dirigido por Nicholas Colia no seu primeiro longa-metragem.

A história acompanha Griffin Nafly, um rapaz de 14 anos, dramaturgo em expansão, vivendo com os seus pais num subúrbio comum. Ele decide passar o verão a escrever uma nova peça teatral, mas a sua criatividade e ambição vão sendo perturbadas quando surge Brad, um homem de 25 anos, faz-tudo contratado pela mãe de Griffin para uns consertos em casa. Brad não é perfeito: vive com os sonhos de ser artista, regressou de Nova Iorque, tem fragilidades, erros, inseguranças. 

Griffin, curioso, apaixonado (por formas inesperadas de amor), imprimindo Brad na sua peça, experienciando o despertar de sentimentos, de identidade, de sonhos que talvez sejam demasiado grandes para a idade. 

 

 O que gostei bastante:

Personagem principal forte. Griffin tem uma voz singular: ambicioso, idealista, vulnerável. A interpretação de Everett Blunck consegue transmitir esse misto de força e insegurança de quem sente intensamente.

Equilíbrio entre humor, dor e descoberta. O filme anda entre momentos engraçados (as distrações, os desencontros de expectativas) e momentos mais sérios de autoconhecimento. Esse contraste torna a narrativa mais rica. 

Representação LGBTQIA+ natural e delicada. O filme não dramatiza excessivamente o facto de Griffin ser gay — é parte da sua experiência, mas não define tudo. Isso mostra uma maturidade narrativa.

Atmosfera do verão + teatro como metáfora. A ideia de usar o teatro, os ensaios, a arte de dramatizar, de escrever e de projetar os sentimentos na peça, tudo isso funciona muito bem como meio de explorar os sonhos e as frustrações de um adolescente. E o verão — com a liberdade, com o sal, com a melancolia leve — tem um papel importante.

 

 O que faltou: 

Alguns momentos previsíveis. A estrutura dramática, a forma como o crush é desenhado, as inseguranças, os desencontros já são temas frequentes no género coming-of-age. Embora o filme traga frescura, em alguns pontos senti que sabia para onde ia.

Desenvolvimento de personagens secundárias. Personagens como amigos de Griffin ou mesmo a figura maternal (mãe dele) têm papel significativo, mas por vezes não têm profundidade tão grande quanto poderiam; ficamos com vontade de ver mais sobre elas.

Tom desigual em certas cenas. Há sequências com tom muito leve, quase caricaturesco, que de repente pulam para emoções mais pesadas. O contraste funciona, mas em alguns momentos senti que a transição não foi tão suave — deixando um pouco a sensação de “estou a entrar num drama de repente”.

 

 Minha impressão final:

Griffin in Summer é um filme para ver com empatia, para recordar o primeiro verão em que tudo parecia poder acontecer. Amores complicados, identidade em construção, o palco que espelha a vida.

Dou 4 estrelas porque senti que o filme consegue ser muito bonito, com boas ideias, boa execução, mas ainda há espaço para algo mais — talvez mais coragem nas arestas, mais surpresa nas dores, mais risco narrativo.

 

 Para quem recomendo:

Leitores/espectadores que gostam de filmes de amadurecimento e descoberta emocional;

Quem aprecia narrativas LGBTQIA+ contadas com inocência, humor e franqueza;

Quem gosta de cinema indie, de personagens que respiram, de ambientes que misturam arte com vida real;

Ideal para ver numa tarde de verão, ou numa noite tranquila em que se queira algo para sentir, não apenas para distrair.

 

⭐ Classificação: 4 / 5