Nobel da Literatura 2025 — O poder da arte em tempos apocalípticos

Hoje foi anunciado: o escritor húngaro László Krasznahorkai é o vencedor do Prémio Nobel da Literatura 2025. A Academia Sueca premiou-o “por sua obra convincente e visionária que, no meio do terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”.
Quem é Krasznahorkai?
Nasceu em 1954, em Gyula, no sudeste da Hungria, perto da fronteira com a Roménia.
Ficou internacionalmente conhecido com O Tango de Satanás (1985), um romance sombrio que descreve uma comunidade rural abandonada vivendo na expectativa de algo milagroso — e na desintegração.
A sua escrita é densa, com frases longas, quase labirínticas; aborda temas difíceis: decadência, desespero, o colapso (social, moral, ecológico). Mas há também uma beleza perturbadora, uma urgência antropológica, uma voz que desafia o leitor a olhar para o limite.
Por que este prémio importa
1.O reflexo dos nossos tempos
Em momentos em que crises políticas, ecológicas e sociais ameaçam rotinas, segurança e confiança, Krasznahorkai oferece uma literatura que confronta o “terror apocalíptico” — não para chocar por chocar, mas para reafirmar que a arte ainda importa, que pode resistir ao desespero.
2.Tradição literária da Europa Central
A Academia ressalva que a sua obra se insere numa linhagem de autores como Kafka e Thomas Bernhard — escritores que souberam explorar o absurdo, o grotesco, o silêncio que bate no limiar do que somos.
3.Desafiar o leitor
Krasznahorkai não é autor para leituras leves. Ele exige presença mental, paciência, vontade de enfrentar o incerto. Para quem está acostumado a romances pequenos ou narrativas direitas, pode ser choque — mas isso também é parte do seu valor. Uma obra capaz de abrir fissuras na realidade, de nos fazer sentir incômodo — e, por vezes, surpreendida.
Crítica e reflexão pessoal
Pessoalmente, acho que esta escolha é estimulante. Dá esperança de que o Nobel continue a valorizar literaturas que desafiam, que fogem do confortável, que trazem desconforto, mas também beleza. Krasznahorkai pode não ser para todos (nem deve ser), mas para quem gosta de se perder em textos que perguntam mais do que respondem, ele será uma leitura essencial.
Também me leva a pensar: quantas obras incríveis continuam desconhecidas apenas porque exigem mais esforço? E quantos leitores podem descobrir neste Nobel alguém que muda a forma de ver o mundo, mesmo que por uma fração de leitura?
O que ler primeiro
Se quiseres começar a explorar Krasznahorkai, estas obras são boas portas de entrada:
1.O Tango de Satanás — provavelmente a mais emblemática, visceral, longa, perturbadora.
2.A Melancolia da Resistência — para quem gosta de reflexões filosóficas sobre comunidade, isolamento, mudança.
3.Herscht 07769 — uma obra mais recente, que traz à tona questões contemporâneas (colapso ecológico, desigualdade, a linha entre civilização e barbárie).
Em conclusão:
O Nobel de 2025 escolheu uma voz difícil, mas necessária. Krasznahorkai mostra que a literatura não perdeu o seu poder de nos confrontar — e pode ser, ainda assim, fonte de beleza, de sentido, de esperança.
Para leitores, fica o convite: sair da zona de conforto. Experimentar voz diferente. Ver se as sombras da arte apocalíptica nos ajudam a ver a luz que às vezes se esconde.















